quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Fotometria + Flash – parte 5 de 9 – Latitude de Exposição

Considero que este seja o artigo mais importante desta série, ele será um pouco longo e complexo, então desde já peço desculpas aos meus leitores pois este artigo exigirá de vocês mais tempo e atenção do que a média. Mas valerá a pena, acreditem.

Se não tem seguido a série de Fotometria + Flash é essencial que leia os artigos anteriores:

    * Introdução
    * O Fotômetro da Câmera
    * O Fotômetro de Mão
    * O Histograma

A latitude de exposição é talvez mais importante que a fotometria em si, pois é da falta de compreensão dela que surgem erros comuns como aquela bela paisagem com um lindo céu azul que ao ser fotografada gerou um céu pálido e estourado.

Quando um fotógrafo obtém um resultado em sua fotometria, seja por qual método for, ele obteve um conjunto de regulagens de abertura, tempo de obturador e sensibilidade ISO que lhe permitem registrar um objeto ou cena que está à sua frente para ser fotografado, mas de forma geral a imensa maioria das cenas que registramos não tem apenas uma condição de luz, e portanto não tem apenas uma fotometria, mas uma foto só pode ser feita com um conjunto único de regulagens, ou seja, por mais variação que haja em uma cena, a mesma será registrada com um único trio envolvendo diafragma, obturador e ISO, mas em muitos casos o trio de regulagens escolhido não é suficiente para lidar com todas as situações de luz presentes na cena.

É aí que entra a latitude de exposição e a amplitude tonal. Em essência devo dizer que estes dois termos frequentemente são utilizados para definir exatamente a mesma coisa, eu os separo por motivos didáticos, espero que compreendam esta separação e os motivos pelos quais a faço.

Da forma como vejo, latitude de exposição é um limite imposto pelo equipamento fotográfico, seja ele digital – o conjunto de limitações de registro do conjunto sensor de captura mais processadores de imagem – ou químico físico – o conjunto de limitações do filme mais a sua revelação.

Imagine um objeto cinza médio, ou verde médio, vermelho médio, como quiserem. Ao fotometrá-lo e fotografá-lo com a medição obtida, teremos um registro correto de sua tonalidade, se começarmos a abrir as regulagens, seja de obturador, ISO ou diafragma, iremos clarear a tonalidade média até que em algum momento teremos branco total. O caminho inverso acontece, se formos fechando as regulagens, em algum momento chegaremos ao preto total.

Esse espaço entre os limites de exposição estourado e fechado (claro e escuro) é a latitude de exposição do equipamento. Deve ficar claro que esse limite é imposto pelo equipamento, ele não se relaciona ao que fotografamos e às características da cena fotografada. Há equipamentos com mais ou menos latitude de exposição, assim como haviam filmes com mais ou menos latitude. O mesmo vale para formatos de arquivo, pois RAW tem mais latitude do que JPEG por um grande número de motivos que não cabe detalhar aqui

Um exemplo de teste/demonstração da latitude de exposição. Utilizei um objeto de tonalidade média (um porta canetas). O zero marca a exposição correta. Podemos notar que em +3 a imagem não apresenta mais nenhuma possibilidade de ser recuperada por qualquer artifício digital, e em -3 também já temos uma imagem demasiado escura, que caso fosse clareada, revelaria enormes quantidades de ruído digital, inviabilizando o uso da imagem.
De forma típica, geral, podemos considerar que qualquer equipamento ou filme tem uma latitude de exposição de pelo menos 3 pontos acima do médio, e 3 pontos abaixo do médio, ou seja, podemos abrir 3 pontos e o médio não irá ficar totalmente branco, e do outro lado fechamos 3 pontos e não temos o preto total. Acima desse intervalo os riscos de perda de informação são enormes.
Do lado de fora da câmera está o que costumo chamar de amplitude tonal, ou seja, o conjunto de informações tonais presentes em uma cena que pretendemos fotografar. Esta amplitude pode ser medida com o fotômetro da câmera.
Para mensurar a amplitude tonal buscamos algo que tenha tonalidade média, ou que desejamos que na fotografia tenha tonalidade média – sim, por que o fotógrafo tem o direito de olhar para algo mais claro ou mais escuro e decidir que ali no final será registrado como médio – e ali obter uma medição base. Após isso o fotógrafo deve observar a cena pretendida e localizar nela seu ponto mais claro e o mais escuro, realizando essas duas medições.
Tendo o conjunto de três medições, o ponto mais claro, o ponto médio e o ponto escuro, é possível saber se este intervalo de luz, essa amplitude tonal medida na cena é possível de ser registrada com o equipamento que temos, em resumo, poderemos saber se a amplitude tonal cabe na latitude de exposição. Vejam o exemplo a seguir:


No exemplo haviam duas áreas que poderiam ser médias, ou que poderiam aparecer como médias no resultado final da fotografia (o fotógrafo sempre pode escolher o que ele quer que saia médio no resultado final e assim determinar toda a estética da fotografia), o gramado iluminado pelo sol e o céu azul. A área mais clara da cena era a grande nuvem logo acima do prédio e a área mais escura a grande sombra no primeiro plano. Há outras sombras até mais escuras distribuídas sob as árvores na cena, mas todas menos importantes para esta imagem, caso ficassem pretas, sem informação, não seria um problema.
Ao medir o gramado ao sol obtive o resultado de abertura f11, tempo de 1/100s em ISO 100. A nuvem apresentou medição de f11, 1/1600s e ISO 100 (quatro pontos mais claro que o gramado. Por fim a sombra do primeiro plano teve medição de f11, 1/12s e ISO 100 (três pontos mais escuro que o gramado). Esse conjunto de três medições tornou óbvio que os quatro pontos de distância da área clara para a mediana fariam a nuvem estourar, o que de fato aconteceu como é observável na imagem à esquerda.
Passei a considerar a outra opção de tonalidade média, o céu, que era pouco mais claro que o gramado e consequentemente levaria a uma medição um pouco mais fechada. No céu obtive f11, 1/160s e ISO 100, uma medição 2/3 de ponto mais fechada do que a obtida no gramado. Isso significa que toda a cena sairia um pouco mais escura ao fotografar com essa medição no lugar da obtida no gramado. No entanto a distância entre o área mediana (céu) e a nuvem agora era de 3 pontos e 1/3 e não mais 4 pontos, mais adequada para evitar o estourado na nuvem. Fiz a foto com a medição do céu e o resultado é visto à direita no exemplo.
O céu não necessariamente era de tonalidade média, isso na verdade não importa, ao fotometrar ali e usar essa regulagem, o céu acaba saindo médio pois é isso que o sistema TTL faz, ao “zerar”  minha medição no céu o TTL se encarrega de torná-lo mediano, restando analisar o resto da cena para saber se nada vai estourar ou sumir no escuro.
Resumo da ópera: Olhe para sua cena e decida o que será médio, fotometre ali “zerando” (centralizando) seu fotômetro naquela área. Pronto, você tem a medição base para sua fotografia. Em seguida encontre a área mais clara e a mais escura de seu enquadramento, meça as duas, se nenhuma delas estiver mais do que a três pontos de distância para essa medição inicial, você pode ter certeza de que a amplitude da cena cabe na latitude de seu equipamento, mas se encontrar uma diferença maior do que 3 pontos em uma das áreas, aí terá de pensar se é possível deixar a referida área estourar ou fechar, se isso irá ou não comprometer a qualidade de sua fotografia, e se você deve ou não tomar providências para corrigir.
No caso da foto do exemplo, considerei que as nuvens estouradas seriam prejudiciais à qualidade da fotografia, então decidi tomar como referência algo um pouco mais claro que médio e torná-lo médio, ou seja, escureci o céu até ele ser médio, reduzindo a distância para a área mais clara e evitando o estourado, o preço que paguei foram sombras mais escuras, mas foi uma escolha consciente.
Quando a amplitude tonal não couber na latitude de exposição o fotógrafo deverá pensar nas seguintes hipóteses:
  • devo fazer a foto assim mesmo sabendo que aquela área vai estourar/fechar?
  • há algo que possa ser feito para a área não estourar/fechar, como por exemplo o uso de filtros graduados de densidade neutra?
  • é possível esperar e voltar em outro dia ou outro horário quando a condição de luz for mais favorável?
  • é possível fazer mais de uma foto com exposições diferentes e mesclá-las digitalmente para disfarçar o problema?
  • É possível escolher uma outra área como médio e assim reduzir diferenças de exposição para a tonalidade extrema que está apresentando problemas?
As respostas para essas perguntas determinarão a atitude que o fotógrafo deverá tomar. Num evento não é possível voltar em outro dia, e muitas vezes não será possível utilizar filtro graduado ou mesmo fazer várias fotos para compor em software. Em casos assim a escolha cairá sobre o sacrifício de alguma área da fotografia, seja escurecendo algo para evitar o estourado ou compondo de forma a evitar a área problemática.
Lembre-se de que o histograma, pode e deve ser usado para verificação da latitude de exposição, ao fazer uma foto, caso o gráfico do histograma esteja “saindo” para uma das laterais (ou para ambas) é sinal de que há perda de informação, seja nas áreas claras (direita do gráfico) ou escuras (esquerda do gráfico) e com essa simples verificação do histograma você poderá tomar várias das decisões que citei anteriormente.
Seja como for, ao analisar a amplitude tonal e confrontá-la com a latitude de exposição o fotógrafo tem meios para tomar essas decisões e voltar para casa com a melhor foto possível, do contrário o fotógrafo chegará em casa e terá uma desagradável surpresa ao abrir as imagens e ver que muitas coisas deram errado e não poderão ser consertadas.

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