terça-feira, 5 de abril de 2011

Tsunamis Orientais e seus Reflexos na Fotografia Mundial

As montadoras japonesas de câmeras terão de reavaliar as estratégias de abastecimento de peças ao redor do mundo, especialmente de componentes considerados críticos – aqueles que levam à interrupção da montagem, como sensores, processadores, pentes de memória, etc.
Como também da montagem de novas linhas de produção. O alerta se deve aos impactos provocados pelo terremoto, seguido de tsunami e crise no sistema de energia nuclear no Japão, que paralisou a produção de várias fábricas no país asiático e já resultou na suspensão das atividades de todo seu parque industrial.
O Japão estava preparado há décadas para terremoto, mas não para a falta de energia elétrica nesta escala. As fabricas estão fechadas. Sem funcionários, sem trens para escoamento até os portos. E nos portos, os navios são impedidos de embarcar. A Organização Mundial de Saúde acredita que a irradiação poderá contaminar outros pontos do planeta.



A situação é triste, o Japão hoje se encontra mais destruído do que a 65 anos atrás, com o fim da Segunda Guerra e com duas bombas atômicas para acelerar sua rendição.
Os importadores brasileiros de câmeras e acessórios, avisam que ainda têm estoque para os próximos 60 dias.
Não podemos negar que já  vimos este filme antes.
Na década de 60, em pleno milagre econômico, recebíamos em primeira mão os últimos lançamentos de câmeras, lentes, filtros, papéis fotográficos, fotoquímicos e outros insumos. Havia na rua Conselheiro Crispiniano, duas grandes lojas que atendiam profissionais de todo o Brasil: Primeiro, a Fotoptica, cujo sócio majoritário era Thomaz Farkas e depois a Cinótica, fundada pelo ex-funcionário e ex-sócio da Fotoptica, Alberto Arroio.
A demanda era muito grande. Havia lista de espera para comprar as ultimas novidades. Os preços, naquela época eram salgados, afinal de contas, fotografia sempre foi privilégio de poucos. Mas o mercado de prestação de serviços em fotografia embora  emergente e estava aquecido.
Tudo  estava ótimo, quando no início dos anos 70, começaram a vigorar a lei do “similar nacional”. Tudo aquilo que era fabricado no Brasil, não podia ser mais importado. A Kodak Brasileira, por exemplo, fabricava as Kodaks Instamatics,  outros fabricantes como a DF Vasconcellos, idem. Eram câmeras amadoras, de poucos recursos, com foco fixo, para fotografar em dias de sol. Algumas ainda tinham ajuste para dia nublado e uso de flash, cuja luz não chegava a dois metros.
Esta lei fez com que a  produção da fotografia brasileira voltasse ao estágio da pedra lascada. Tinha gente procurando no fundo de guarda roupas, baús e sapateiras, câmeras antigas dos avôs ou parentes mais velhos para poder ter alguma ferramenta para trabalhar. As que chegavam por contrabando custavam pequenas fortunas. Coisa arriscada naquela época, devido a ditadura militar. Mas a necessidade era grande, não havia outra maneira senão contrabandear. Os principais produtos eram: câmeras profissionais e caixas de whisky.
Em pouco tempo,  todos os equipamentos fotográficos, adquiridos no exterior, com taxas reduzidas,  no Brasil, passou a ser reserva de mercado.
Para quem não sabe, reserva de mercado é uma política governamental que impede legalmente o acesso e a importação de uma determinada classe de produtos e bens de consumo com vistas a uma pretensa proteção e desenvolvimento da indústria nacional e incremento da pesquisa científica interna.
O governo, daquela época, já havia criado, no final dos anos 60, a zona franca de Manaus, com o objetivo de estimular a industrialização da cidade e sua área adjacente, bem como ampliar seu mercado de trabalho. Trata-se de uma área de livre comércio, em que não são cobrados impostos de importação sobre os produtos comprados no exterior.
Além de contribuir para o desenvolvimento do comércio local, a isenção alfandegária favoreceu a formação de um expressivo distrito industrial junto à capital do Amazonas. A maioria de suas indústrias, contudo, é apenas montadora de produtos obtidos com tecnologia estrangeira.
Mas para a fotografia, a Zona Franca não ajudou muito.  Os japoneses implataram a  fabrica da Mamiya , que montava cameras profissionais formato 6 x 6 cm com dupla objetiva, as famosas C 330 similar a Rolleiflex. Em Sorocada, SP a Yashica montou frabrica de cameras reflex tradicionais, a Yashica FX-D . Estes modelos já haviam sido desativados na fábrica de origem.
A Fuji abria sua fabrica de filmes e quimicos em Caçapava, SP e a Kodak  também, em São jose dos Campos.
As intenções eram boas, mas aparentemente esta iniciativa acabara funcionando  apenas para o  latente mercado de informática.
Por outro lado, as fabricas brasileiras como Yashica e Mamyia fecharam no inicio dos anos 80, por falta de demanda de seus produtos. Parece que santo da casa não faz milagre.
Hoje, a maioria das  indústrias deixou de ser fábrica para ser montadora.  Já nos anos 80, as primeiras câmeras Leicas modelo R, analógicas, já não eram mais produzidas em solo alemão. As lentes eram fabricadas no Canadá, (que produzia o “balsamo do Canadá”) para colar as lentes enquanto que o corpo era produzido em Portugal, pois a mão de obra era mais barata.
Mas isto não é novidade para nós. Os carros da Mercedes Bens, produzidos nos Estados Unidos, utilizam motor da  Chrysler. Ou, ainda no Brasil, temos modelos de carros da Fiat utilizando motor GM.
Segundo o site www.dpreview.com os sensores utilizados pelas câmeras Nikon são fabricados pela Sony.
Em suma, os fabricantes hoje apenas desenvolvem o projeto, compram no mercado ou encomendam componentes e  contratam mão de obra e linha de produção de terceiros. Há caso de  excelentes fabricantes do passado que licenciam  seu nome, como a Zeiss, por exemplo. No passado, suas lentes eram excelentes, mas absurdamente caras. As lentes originais da Zeiss hoje ainda têm preço alto, mas há uma infinidade de outros fabricantes utilizando seu nome, como as câmeras compactas da Sony por exemplo. O mesmo ocorre com a marca Leica  em modelos de câmeras compactas da Panasonic. As câmeras Leica são famosas não apenas por ter sido a primeira câmera de 35 mm, lançada em 1920, pelo seu inventor Ernst Leitz.  Mas por ter sido a câmera utilizada pelos mestres da fotografia, como Cartier Bresson, Robert Capa, Ilse Bing e outros grandes fotógrafos contemporâneos.
Embora hoje  a economia esteja totalmente globalizada, o mercado com certeza será abalado com esta tragédia. O Japão conta com fabricas na China e nos tigres asiáticos,  mas as linhas de produção estão sem voz de comando. Os países do extremo oriente também sentiram o reflexo deste efeito geogólico. É como perder o general em uma batalha. Talvez tenhamos que regredir, como ocorreu nos anos 80, talvez não. Mas, até agora, não há nenhum comunicado oficial das grandes marcas, como Nikon, Canon ou Sony a respeito disso.
Os japoneses deverão encontrar outros pontos para montar suas novas linhas de produção.  Eles são muito bons para promoverem fusões. Um exemplo na área da fotografia foi a Sony que incorporou outras duas multinacionais, Minolta e Konika. Há quem aposte nos Estados Unidos, outros no Brasil, já que nosso país recebeu muito elogios durante a visita de Barak Obama, já com alguns acordos de parceria já firmados.
Outros afirmam que a visita de Obama é para garantir a participação no pré-sal, já que Hugo Chaves fechou suas portas para os Estados Unidos, além do interesse norte americano na tecnologia dos bio-combustíveis.
Hoje o homem tem uma variável a mais para se preocupar, além da economia, da política e das guerras: o cuidado com o próprio eco sistema de nosso planeta. Quando ele falha, todos nós pagamos as contas. Todos nós retrocedemos, todos nós voltamos a ser trogloditas.


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